O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira (4), ao mencionar o que pode ser levação à mesa de negociação com o secretário de Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, que as terras raras brasileiras e os minerais críticos poderão fazer parte de acordos de cooperação bilateral.
Minerais e terras raras são essenciais para produção de baterias elétricas e para o setor de inteligência artificial.
Em entrevista à BandNews, Haddad confirmou que se encontrará com Bessent nesta semana para tratar do tarifaço imposto ao Brasil e disse acreditar que “alguma coisa ainda possa acontecer até dia 6.
Conforme ordem executiva assinada pelo presidente norte-americano Donald Trump, na última semana, nesta quarta-feira (6) terá início da vigência da sobretaxa de 50% aos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos.
Na entrevista, Haddad criticou o que chama de polarização do debate comercial e disse que, de maio para julho, a questão das tarifas foi politizada pela oposição, no sentido de misturar a questão comercial com política. neste caso, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo ele, os Estados Unidos, como governo democrático, tem o direito de buscar uma solução para a sua economia, mesmo que ela seja inusitada e não atenda ao mundo.
“Mesmo assim, temos que considerar o fato de que essa questão foi politizada de uma forma que nenhum outro país viveu. E nós estamos falando de países que não são democráticos, de países que têm governos autoritários. E nem por isso as tarifas foram usadas com finalidade política”, comparou.
O ministro ressaltou que o comércio internacional não pode ser utilizado para interesses eleitorais de “um país que quer ver o Brasil governado por forças que querem entregar as riquezas nacionais, incluindo terras raras, os minerais críticos, a questão da regulação das big techs e o Pix”.
“O Pix, por exemplo, entendemos que tem que ser mantido sob a responsabilidade do nosso Banco Central. Mas, tudo isso são questões de soberania nacional que nada têm a ver com o debate comercial. Somos um país soberano, democrático e temos poderes independentes”, destacou Haddad.
Ainda segundo ele o principal motivo do encontro com Bessent é a questão comercial.
“A nossa soberania não está em discussão, a nossa democracia não está em discussão; as nossas relações bilaterais estão em discussão. E é saudável que os Estados Unidos se interessem mais pelo Brasil e vice-versa, porque o país um parceiro muito tradicional nosso”, reforçou.
Diversificação das exportações
Haddad disse ainda que o governo brasileiros não está trabalhando com datas fatídicas ou datas finais – se referindo ao dia 6-, porque, segundo ele, o Brasil nunca saiu da mesa de negociação com os Estados Unidos e nem pretende fazê-lo, até que haja um acordo.
“Porque não há o menor sentido na taxação que está sendo imposta ao país”, repetiu.
O ministro da Fazenda apontou também que os Estados Unidos já representaram 25% das exportações brasileiras e hoje, está em 12%.
“Desde que o presidente Lula tomou posse, em 2002, caiu à metade da importância dos Estados Unidos na nossa pauta de exportações. Isso tem um lado muito bom, que é a diversificação, nós não estamos tão dependentes, como é o caso do México, do Canadá”, comparou.
Acordos de cooperação
Haddad enfatizou que o Brasil é hoje um país mais independente, porque é mais diversos do ponto de vista da pauta de exportação.
No entanto, para Haddad, em se tratando da maior economia do mundo, o Brasil pode participar mais do comércio bilateral e, sobretudo de investimentos estratégicos.
“Nós temos minerais críticos e terras raras, os Estados Unidos não são ricos nesses minerais. Nós podemos fazer acordos de cooperação para produzir baterias mais eficientes na área tecnológica. Nós temos muito a aprender e nós temos muito também a ensinar”, sugeriu o ministro.
Ele ainda destacou com o PIX, que é uma tecnologia desenvolvida no Brasil, virou objeto de desejo e tem sido considerada por economistas como o futuro da moeda digital no mundo.
“Então, para quem está com medo de desdolarização, nós temos uma tecnologia que pode interessar muito. Temos hoje o maior potencial em termos de benefício de produção de energia eólica solar, que é a energia que vai abastecer os data centers, inclusive no Brasil”, exemplificou.
O ministro da Fazenda disse ainda que o Brasil quer investimentos da China, da União Europeia e do Brasil.
“Nós somos um país grande demais para servir de satélite de um bloco econômico, seja asiático, europeu ou estadunidense. Nós precisamos diversificar cada vez mais”, defendeu.
Haddad enfatizou que o governo federal trabalha para diversificar as exportações e que, nos últimos dois anos e meio, foram mais de 300 novos mercados conquistados.
“O mundo será tão mais rico, tão mais próspero, quanto mais multilateral, quanto mais oportunidade for distribuída do ponto de vista geográfico, para que o mundo todo tenha condições de prosperar, sem que os fluxos migratórios sejam tão intensos em busca de oportunidades econômicas”, analisou.
Plano de Contingência
Fernando Haddad disse também que o chamado Plano de Contingência, que reúne as medidas de ajuda para os setores que serão afetados pelo tarifaço, já está desenhado e orçado, conforme as regras do arcabouço fiscal.
Além do uso despesas primárias do Orçamento, o governo também pode criar linhas de crédito alternativas para os setores afetados.
“Nesse momento não estamos prevendo nenhuma medida que saia dos marcos estabelecidos pela legislação atual, então vamos seguir o custo do ponto de vista fiscal. Para além do orçamento primário, você tem um orçamento financeiro que te permite, em um momento como esse, criar linhas de crédito que não impactam as contas primárias, mas podem ser instrumentos importantes para direcionar crédito para setores que estão duramente afetados por essas medidas”, declarou.
Impacto econômico
Haddad acredita que o Brasil não terá dificuldades em redirecionar suas commodities para outras praças comerciais.
“Mas, há determinados setores, esses, sim, inspiram um grande cuidado e vamos trabalhar para proteger essa outra ponte, que nops preocupa”, pondera o ministro, acrescentando que o Plano de Contingência prevê políticas sob medida para determinados setores.
Ainda na opinião do ministro, o impacto do tarifaço será microeconômico, porque, segundo ele, a medida não afeta a macroeconomia do país.
“Mas, de qualquer forma, estamos abertos para conversar com todos os setores, com os governadores e discutir as medidas necessárias. Nós não queremos prejudicar ninguém em virtude dessa injustiça, que eu repito, está sendo fomentada por setores internos ao Brasil, que não estão compreendendo que, entre Brasil e Estados Unidos, nós temos que defender os interesses nacionais”, finalizou o ministro da Fazendo, Fernando Haddad.