Romeu Tuma Jr., presidente do Conselho Deliberativo do Corinthians, concedeu uma entrevista coletiva na tarde desta sexta-feira (01), no Parque São Jorge, sede do clube, para abordar temas relacionados ao conturbado momento da equipe.
Durante o encontro com os jornalistas, o dirigente revelou que o time alvinegro estava sendo vítima de um esquema de desvio de ingressos de partidas na Neo Química Arena.
“Sobre Fiel Torcedor e cambismo, foi graças ao trabalho da comissão e do conselho que chegamos ao desvio de ingressos do Fiel Torcedor. Quero fazer um agradecimento público à empresa Bepass, que entendeu o momento do clube e rescindiu amigavelmente o contrato sem ônus ao clube. Agora, temos ausência quase que total de cambistas na Neo Química Arena”, iniciou Tuma Jr.
“Foi identificado que mais de 8 mil ingressos estavam sendo utilizados para outros fins, que agora puderam voltar aos torcedores do clube. Acho que todos vocês viram a diferença entre as rendas do clube com públicos similares e valores muito distintos. Quero lembrar também que não houve colaboração da ex-diretoria. (…) Como não tínhamos resposta da antiga diretoria, tivemos que apresentar denúncia à polícia”, expôs o diretor.
Romeu detalhou o efeito da distribuição irregular de alguns ingressos e como ela afetaria o duelo contra o Palmeiras, disputado na última quarta-feira (30) e válido pelas oitavas de final da Copa do Brasil.
“A gente tinha um absurdo de distribuição de ingresso de forma equivocada, irregular e até ilegal. 8200 ingressos nós detectamos que a distribuição era irregular. É um trabalho da comissão e do departamento de tecnologia. Tudo fora do sistema do Fiel Torcedor. Vou te dar um exemplo: no jogo contra o Palmeiras, foram cortadas 1040 cortesias. Quase 4 mil ingressos excluídos do Fiel Torcedor, mais 2500 de várias outras áreas, 300 a mais do que o contrato da Fiel Zone permitia, 500 ingressos de camarotes sem contratos. (…) A grosso modo, o Corinthians deixava de arrecadar R$ 1 milhão por jogo.”
Além do esquema de desvio de ingressos, o tema envolvendo a possível reforma estatutária do Parque São Jorge, muito debatida entre os torcedores nos últimos meses, também foi abordada por Tuma.
“Tentamos emplacar uma reforma estatutária, mas não foi possível. Temos pessoas que amam o Corinthians e querem essa reforma. Espero concretizá-la. Vamos tratar do direito do voto do torcedor, algo que sempre foi debatido pela imprensa, mas nunca no foro adequado dentro do clube. Vamos tratar da relação entre clube e torcida organizada. Pelo empenho de quem está envolvido, já era para ter sido concretizada desde agosto do ano passado, mas as questões políticas se sobressaíram e ela não foi concretizada”, revelou o dirigente.
Veja abaixo algumas das principais aspas de Romeu Tuma Jr. na coletiva:
Trabalho da Comissão de Ética sobre os gastos pessoais de ex-presidentes “Temos praticamente duas comissões de ética, uma cuidando exclusivamente com o caso da invasão e outra, de fato, tocando os outros casos. (…) No caso do cartão, o conselho apura infração estatutária, não crime. Vamos apurar infração estatutária, o cartão não tem regulamento, o estatuto não prevê nada. Vamos apurar tudo, quem vai julgar é o conselho. Temos que apurar, chamar o financeiro, entender quem pode ter cartão. Hoje saiu uma notícia grave de que tem um cartão no nome do Andrés ainda, ele saiu tem cinco ou seis anos. Como tem um cartão no nome dele? Alguma coisa está errada”.
BO contra Andrés Sanchez? “Sobre o boletim de ocorrência, não compete ao Conselho Deliberativo fazer o BO. Por que vou fazer BO de apropriação indébita? O Andrés mandou ofício para mim, disse que tinha uma despesa no nome dele e que não foi avisado. Ele chegou e pagou. Poderia se esconder. Isso é confissão, não sei se é. Ele fez ofício e pagou o clube. Não sei se é apropriação indébita”. “Não estou defendendo, mas estou dizendo que não é caso do Conselho Deliberativo fazer BO. Não sei se o crime está configurado, quem vai dizer se está configurado é o Ministério Público. Não me cobraram muito no caso do Augusto (Melo, presidente afastado) de esperar inquérito, vocês são imprensa livre. Como vamos ter um presidente réu com o clube como assistente de acusação? Como isso? O Corinthians não apura crime, apura infração estatutária”.
“Demanda muito entendimento, o clube está fazendo isso para avaliar se vale ou não fazer o BO. O doutor Pantaleão (Leonardo Pantaleão, ex-diretor jurídico do Corinthians e presidente da Comissão de Justiça do CD) tem sido importante, sabe o que está fazendo, está apurando. Não podemos assassinar a reputação das pessoas. O pedófilo não vai me pautar, ele pode pautar a imprensa, mas eu não”.
Impacto negativo da invasão ao Parque São Jorge “Quanto mais pressão faz mais medo. Imagina quando eles tiverem poder de decisão. Aquela invasão que teve há um mês quando trancaram o portão, tinha criança aqui dentro. O pessoal vem aqui, amedronta a gente e ainda vão votar? Essa pressão provoca medo. Tem prazo estatutário para tudo. Falo com bastante franqueza. Tem muita gente que não quer reforma. O ex-presidente (Augusto), por exemplo, não fez nenhuma proposta na reforma. Procurei ele três vezes, mas ele nunca disse. Ele nunca disse: ‘acho importante o Fiel Torcedor votar'”.
“A primeira proposta escrita de colocar os torcedores do Fiel Torcedor para votar, sabe de quem foi? Dos (conselheiros) vitalícios. Eles tiveram coragem de propor. Tem muita narrativa que não é verdade, mas tudo bem”.
Gastos pessoais de Duílio Monteiro Alves “Houve um caso específico de um blogueiro que publicou umas notas, fomos apurar, o financeiro disse que não tinha as notas e foi deflagrado o processo de apuração interna. Isso foi parar no inquérito das milícias. O blogueiro veio aqui com o advogado dele, ele disse que não tinha, que quem mandou foi um funcionário do clube. Ele disse que não tinha”.
“Se você tiver a nota, leva no jurídico que eles vão fazer o BO. Ninguém vai encobrir nada aqui, se tiver a nota lá e não existe mercado, certamente vão abrir. Pode entregar para mim que eu levo”.
SAF “A ‘SAFIEL’ (projeto de gestão levantado por alguns torcedores) tem interesses, deram dinheiro para a campanha do ex-presidente. O Corinthians não vai ser SAF. SAF é modelo de sucesso? Me fala duas. O Corinthians não nasceu para ser entreposto de empresário, tem sido usado, mas não nasceu para isso. Espero que o Corinthians renasça no próximo sábado”.