O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (6) a imposição de uma tarifa adicional de 25% sobre as importações vindas da Índia.
Diante da nova alíquota, passou-se a questionar: será que o Brasil é o próximo país a ser taxado? A dúvida surgiu diante do fato de que a Rússia, assim como o Brasil, faz parte do BRICS, bloco econômico voltado a fortalecer relações entre os países, principalmente nos âmbitos geopolítico e comercial.
Nova taxa
Com a nova taxação anunciada nesta quarta (06), as tarifas totais à Índia saltam para 50%, sinalizando uma postura mais agressiva da Casa Branca em relação aos países que mantêm relações comerciais com a Rússia, especialmente na área de petróleo.
A justificativa para o aumento tarifário seria uma penalização voltada às nações que seguem comprando petróleo russo, contrariando os interesses geopolíticos dos EUA.
E o Brasil?
A decisão gerou preocupação quanto à possibilidade de o Brasil também ser alvo de sanções semelhantes, uma vez que o país mantém relações comerciais com a Rússia.
O assunto já havia sido comentado durante a viagem da comissão de senadores aos EUA para tentar negociar o tarifaço de Trump aos produtos brasileiros.
Segundo o senador Carlos Viana (Podemos), os parlamentares foram informados sobre a possibilidade de aprovação, nos próximos 90 dias, de uma lei que prevê sanções a países que mantêm relações comerciais com a Rússia.
Para entender os possíveis desdobramentos dessa medida e como ela poderia afetar a economia brasileira, o Portal iG entrevistou o advogado tributarista Ivson Coêlho.
Segundo Coêlho, o Brasil não precisa, necessariamente, rever sua política de comércio com a Rússia, mas sim adotar uma postura mais estratégica diante do novo contexto internacional.
“O Brasil tem buscado uma postura de equilíbrio e autonomia diplomática, mantendo relações com diferentes potências. No entanto, frente à crescente pressão ocidental contra países que comercializam com a Rússia, seria prudente mapear riscos geopolíticos associados a esses fluxos, como fertilizantes russos, diesel e trigo. Monitorar sinais de pressão dos EUA é fundamental, sem romper relações com a Rússia, mas buscando reduzir a exposição a sanções secundárias”, afirmou ao iG.
Setores mais vulneráveis
Caso o Brasil passe a figurar como alvo de medidas retaliatórias dos EUA, os reflexos poderão ser sentidos em cadeias produtivas de alto valor agregado e peso nas exportações nacionais. O agronegócio, em especial, aparece entre os mais vulneráveis.
“Setores com forte presença no mercado americano, como a agroindústria, seriam os mais afetados nesse caso. Carne, suco de laranja, açúcar e derivados de soja são exemplos claros. A mineração e siderurgia — inclusive aço e alumínio, que já enfrentaram tarifas — também entram na lista. Sem contar os setores automotivo e de autopeças, que integram cadeias globais”, ressaltou o especialista.
O Brasil mantém com a Rússia uma relação comercial que vai além do petróleo, incluindo a importação de insumos agrícolas, além da exportação de carne, soja e outros itens estratégicos para a balança comercial.
Uma eventual ampliação de sanções ou tarifas poderia provocar desequilíbrios nesse fluxo, afetando preços, produção e empregos.
Diplomacia e diversificação como estratégia
Na avaliação do tributarista, a estratégia mais eficaz passa por uma diplomacia firme, mas pragmática.
“O Brasil deve reforçar que suas relações comerciais seguem interesses nacionais, e não alinhamentos ideológicos. Participar de fóruns como a OMC e o G20 é essencial, assim como estreitar laços com o Congresso e o setor empresarial dos EUA, explicando a natureza da relação com a Rússia. Paralelamente, seria estratégico fortalecer acordos bilaterais e salvaguardas diplomáticas com os norte-americanos”.
Para Coêlho, a redução da dependência brasileira em relação a poucos mercados também deve ser uma prioridade. Ele aponta a concentração excessiva das exportações brasileiras nos EUA, China e União Europeia como um ponto de vulnerabilidade diante de crises políticas e econômicas globais.
“Hoje, EUA, China e União Europeia concentram a maior parte do comércio exterior brasileiro. É hora de ampliar acordos com países do Sudeste Asiático, África e Oriente Médio. Outro passo importante seria fortalecer o Mercosul e explorar alternativas bilaterais em áreas como tecnologia e biocombustíveis. Investir em inovação e agregar valor às exportações pode ser o caminho para ampliar margens de manobra e mitigar riscos externos”, concluiu.