Em tempos de busca por peças vintage, um item aparentemente simples tem despertado o interesse de colecionadores e movimentado o mercado de antiguidades no Brasil: o prato Duralex. Presente em cozinhas de Norte a Sul do país desde meados do século passado, essa louça de vidro temperado combina resistência, design funcional e, para muitos, um valor emocional que vai muito além do preço de etiqueta.
A trajetória do Duralex começa em 1945, na França, quando a fabricante Saint-Gobain apresentou ao mundo a tecnologia do vidro temperado. Mais seguro e resistente que o vidro comum, o material podia suportar impactos e variações bruscas de temperatura. O nome nasceu de uma expressão latina, Dura lex, sed lex — “a lei é dura, mas é a lei” —, que pretendia traduzir a durabilidade do produto.
No Brasil, as primeiras unidades chegaram na década de 1950 por importação. Já nos anos 1980, a produção nacional começou, impulsionando a popularização do prato, especialmente na cor âmbar, que se tornou símbolo de restaurantes, refeitórios e lares de classe média. Sua fama de “inquebrável” foi construída à mesa: resistia a quedas, choques térmicos e ao uso diário sem perder a forma ou o brilho.
O Duralex deixou de ser apenas utensílio para ganhar status de ícone doméstico. Em muitos lares, acompanha histórias de almoços de domingo, cafés com bolo e refeições apressadas antes do trabalho. As cores clássicas — âmbar, verde e cristal — marcaram época, a ponto de muitos consumidores associarem o prato a lembranças da infância.
Mas o que era um objeto do cotidiano passou a chamar a atenção do mercado de colecionadores. Desde que a linha âmbar deixou de ser fabricada no Brasil, em 2012, modelos antigos, especialmente em bom estado ou com embalagem original, vêm sendo vendidos por valores que superam em muito o preço original.
Em feiras de antiguidades e lojas especializadas, jogos de pratos comuns podem custar de R$ 120 a R$ 300. Já peças raras ou de séries limitadas alcançam cifras superiores a R$ 500.
O que aconteceu com a Duralex no Brasil e no mundo?
A história da Duralex no Brasil começou na década de 1950, quando seus produtos passaram a ser importados da França. Porém, o verdadeiro momento de expansão veio só nos anos 1980, com o início da produção local pela Santa Marina, empresa que já tinha tradição no setor de vidros. Foi a partir dali que o prato Duralex se tornou um item quase onipresente nas cozinhas brasileiras, conquistando consumidores pela resistência e preço acessível — uma combinação que facilitou sua popularização em larga escala.
Durante os anos 1990, a marca consolidou sua presença no mercado nacional. Dados da época indicam que a empresa empregava cerca de 1.500 funcionários e produzia mais de 130 milhões de peças por ano, distribuídas não só no Brasil, mas em mercados ao redor do mundo. O produto, famoso por sua durabilidade e design simples, fez parte do cotidiano de milhares de famílias, estabelecendo-se como sinônimo de praticidade e confiança.
O cenário mudou em 2011, quando a Santa Marina foi adquirida pela Nadir Figueiredo, a maior fabricante de vidros domésticos do país. Essa mudança trouxe novos rumos à marca, que passou a ser administrada por uma empresa com forte presença nacional. A partir de então, algumas decisões importantes foram tomadas, como a descontinuação da linha clássica âmbar em 2012 — a cor que se tornou símbolo do prato — e a concentração da produção em modelos nas cores azul e transparente. Essa transição marcou uma independência da Duralex brasileira em relação à sua matriz francesa, dando à marca uma identidade mais alinhada ao mercado local.
Mas a trajetória da Duralex não foi só de conquistas no Brasil. Na França, sua terra natal, a empresa enfrentou uma crise profunda a partir dos anos 2000. A concorrência de fabricantes asiáticos, o aumento dos custos de energia e problemas técnicos graves nos fornos industriais prejudicaram severamente a produção. Dois pedidos de recuperação judicial, um em 2008 e outro em 2020, refletem os esforços para manter a empresa ativa, especialmente durante o impacto da pandemia de covid-19.
Em 2021, após décadas de história, a Duralex francesa foi vendida para a International Cookware, dona da Pyrex, por 3,5 milhões de euros. Para preservar empregos e a produção local, a fábrica foi convertida em cooperativa, um modelo que busca garantir a continuidade da tradicional linha de vidro temperado, mesmo diante dos desafios do mercado global.
No Brasil, em 2019, a Nadir Figueiredo foi adquirida pelo fundo americano HIG Capital por R$ 836 milhões, que promoveu um reposicionamento da marca, agora conhecida apenas como “Nadir”. Mesmo com essas transformações, o legado do prato Duralex permanece forte, seja nas mesas, nas memórias afetivas ou no mercado de colecionadores que valorizam suas peças antigas, especialmente as descontinuadas.